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segunda-feira, outubro 31, 2011

ESPIRITUALIDADE COMO CELEBRAÇÃO DA VIDA



          A dimensão espiritual do ser humano sempre presente na história da humanidade, vem sendo recolocada em cena na sociedade; de variadas formas, através de antigas e novas religiões, e/ou como busca pessoal.
Muitas pessoas atualmente crêem nesta dimensão e a buscam para suas vidas.
        De outro lado, “desordens e desequilíbrios espirituais” sempre assolaram parcelas significativas da população, constituindo-se um fato.
O tratamento para estas desordens vai variar de acordo com a cultura onde a pessoa em desequilíbrio está inserida. Na maior parte das vezes, estas pessoas procuram auxílio em Templos Espirituais das mais diversas religiões. São também nestes templos, através de um outro indivíduo, já “iniciado no religioso”, que as pessoas podem obter seu desenvolvimento espiritual de forma mais planejada, acompanhada e assistida.
        Pessoas que vivenciam desordens espirituais, também manifestam desordens em seu campo emocional e psíquico. Muitas  procuram auxílio com profissionais da área “psi”, para auxiliá-las.
         Mas qual a contribuição que um psicoterapeuta pode dar a quem passa por este tipo de problema? Qual o papel da psicoterapia diante deste ser que sofre e nos solicita auxílio? Quais os limites da atuação do psicoterapeuta? Do que tratamos? Que desordens espirituais são essas?
          Entendo que realizando o objetivo da psicoterapia, de auxiliarmos o desenvolvimento pleno do ser, tornando-o mais humano, mais generoso, mais prazeroso, mais amoroso; logo mais centrado, equilibrado e pleno; estamos auxiliando ao desenvolvimento de sua espiritualidade se a entendemos como celebração da vida. Espiritualidade entendida como uma relação mais harmoniosa com a natureza, consigo mesmo e com seus semelhantes.
          Cabe ao psicoterapeuta reconhecer os estados “transpessoais” da realidade do ser; mas também possibilitar que a pessoa com desequilíbrios espirituais se permita manter-se livre da ilusão, fugas, ou outras quaisquer desarmonias que bloqueiem ou impeçam a plenitude do viver, para que a ocorrência ou vivência da dimensão do espiritual, não seja motivo de desequilíbrios.
           A atitude do psicoterapeuta deve ser a do “não julgamento” ou imposição de sua forma de compreensão da realidade. Temos o compromisso ético de respeitar todos os tipos de cultura, mesmo aquela que se apresentam como diferentes ou discordantes de nossas crenças.
            A psicoterapia pode contribuir com a pessoa com desordens espirituais, como no geral, com todos os indivíduos que a procuram, como espaço da escuta, do crescimento e do acolhimento.
            No tocante ás desordens espirituais, propriamente ditas, todos que já a estudaram podem afirmar que não há uma igual á outra. A psicoterapia vai se basear na crise pela qual a pessoa passa, em como esta crise está inserida na vida do sujeito e em como este sujeito interage com ela. O essencial é que a pessoa possa perceber que a crise manifestada, como em geral todas as crises por que passamos em nossa existência, tem uma natureza curativa, pois possibilita que possamos transformá-la e nos tornamo-nos mais plenos e mais humanos. Apesar de cremos que toda desarmonia espiritual é individualizada e única, não podemos nos furtar em colocar algumas facetas gerais, que ocorrem com pessoas que manifestam este tipo de problema.
  • Dependência excessiva de líderes espirituais – em todas as religiões a dependência excessiva de outrem é motivo de desarmonia. O ser pleno age sob seu comando interno.
  • Presunção de ser alguém especial -  Alguns apresentam a tentação de ser uma pessoa superior ao conjunto dos seres humanos. Muitos destes vão julgar que “sabem e podem salvar” os outros seres, muitas vezes supervalorizando “poderes” em detrimento de um desenvolvimento geral da personalidade, tanto do “curador” como do sujeito que procura auxílio.
  • Rigidez de dogmas – Cada religião tem seus dogmas. Se nos ativermos a estes sem uma reflexão pessoal, nos tornamos rígidos. Se entendemos o ser humano pleno, como flexível, qualquer “amarra” é fator de desarmonia. A rigidez dos dogmas impede ao ser humano buscar saídas e alternativas para seu equilíbrio.
  • Tentação do sacrifício pessoal  - Muitas pessoas ao invés de “ servir ao próximo”, vivem como mártires, concebendo esse martírio pessoal como demonstração da evolução do seu ser.  Esta é uma falsa humildade, que também tem conotação de presunção de superioridade. O martírio pessoal nunca pode ser visto como desenvolvimento do sujeito, pois é anti vida.
  • Fascínio da espiritualidade – Algumas pessoas com o despertar da espiritualidade, acabam vivendo a maior parte de suas vidas subjugadas pelo que julgam espiritual, esquecendo ou não valorizando outros aspectos de suas vidas. A espiritualidade deve fazer parte da vida e ser expressa nas ações do cotidiano.
  • Fuga do mundo material, concreto – Lidar apenas ou prioritariamente como mundo ou questões ditas espirituais pode também ser uma forma de não lidarmos com nossos problemas cotidianos, o que nos impossibilita de lidarmos com toda a beleza e plenitude da vida.
  • Procura de soluções mágicas -  Ante a dificuldade de lidar com a própria vida, muitos vão esperar que haja consolo Divino para sua melhora, sem que haja esforço pessoal. Desta forma, desobrigamo-nos de qualquer ato pessoal, esperando uma solução rápida e mágica de nossos problemas.
  • Medo do oculto, do desconhecido -  Alguns quando se vêem frente a estas desordens, demonstram um medo enorme; colocando o espiritual na esfera do sobrenatural, e não, como algo “ natural ( da natureza do humano). Isso enfatiza uma impotência e paralisia para lidar com o fato.

Essas facetas das desordens espirituais podem e devem ser trabalhadas na psicoterapia, assim como as emoções correspondentes – medo, insegurança, sensação de superioridade, fascinação, etc e traços de caráter que estejam provocando o sofrimento dessas pessoas.
Se entendermos a doença como um desequilíbrio, uma manifestação de nosso ser de que “algo não está funcionando bem”, um alerta; as desordens/desequilíbrios espirituais vão demonstrar que nos deslocamos de nosso centro/equilíbrio.
A psicoterapia pode auxiliar as pessoas que passam por esta crise, possibilitando que a desordem manifestada seja um caminho ara o reencontro do sujeito em busca de sua auto realização.
Tania Jandira R. Ferreira


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