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segunda-feira, outubro 21, 2013

Animais partilham afeto e alegria que são ações curativas


Vivemos em um mundo complexo onde os afetos entre os humanos se tornam voláteis, apressados; onde muitas pessoas não conseguem mais se encontrar e partilhar afetos, dores, alegrias e esperanças.
Tempo onde o “torpedo” substitui o telefonema e o ouvir a voz do outro, tornando o ser humano cada vez mais isolado apesar de tanta inovação tecnológica.
A companhia de animais, seu carinho e afeto, podem ser um excelente estímulo à vida, nesse mundo complexo.

Nise da Silveira, psiquiatra das mais importantes no cenário brasileiro, começou a perceber e adotar isso, com pessoas com sofrimento psíquico já na década de 70, quando percebeu que nos métodos de terapia ocupacional faltava... emoção.
Ela foi pioneira no Brasil, no uso de animais no tratamento de doentes mentais. Os utilizava como co-terapeutas. Em entrevista a revista Época em 1998, ela já dizia:

Ainda se confia muito no remédio. Remédio não me parece muito eficiente. Pode ter efeito paliativo, mas não curativo. Confio mais no afeto e na ação curativa da alegria.”

Em seu livro "Gatos, a emoção de lidar", ela conta como  despertou para isso. Ela dirigia a seção de terapêutica ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II.
Optou inicialmente por utilizar como método a terapia ocupacional, método considerado de importância menor e até mesmo subalterno, embora sua intenção fosse reformá-lo completamente, pois para ela faltava... emoção.

“Foi quando certo dia um rapaz freqüentador da Terapia Ocupacional, em vez de entrar numa das salas de trabalhos masculinos preferiu entrar na sala de atividades femininas atraído pelas qualidades latentes que pressentia existirem num pedaço de veludo estendido sobre a mesa da sala. Dirigiu-se à monitora Maria Abdo e perguntou: 'Posso com este pano fazer um gato?” 

Completado o gato, Luis Carlos tomou um lápis e escreveu:
   
  “Gato simplesmente angorá do mato
   Azul olhos nariz cinza
   Gato marrom
   Orelha castanho macho
   Agora rapidez
   Emoção de lidar”

Enquanto manipulava seu gato de veludo, com surpreendente habilidade, Luis Carlos parecia feliz e disse: 
- “Como é macio! Sinto grande emoção de lidar com ele entre minhas mãos”. Essa expressão Emoção de Lidar foi ponto de partida para substituirmos o pesado título Terapêutica Ocupacional."

Nise teve vários gatos com quem compartilhava sua vida, com eles aprendeu muita coisa. Na entrevista citada ela diz o porquê sua admiração pelos gatos.

Cultivo muito a independência. Por isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade de que ele precisa para viver. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo”.

Seu amor pelos animais e o que eles podem ensinar aos humanos, foi celebrado em várias de suas frases que circulam:

“Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo.”

“Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.”

A falta de contato humano, não deveria ser substituída pelo contato com animais, mas eles podem nos ensinar muito... sobre o humano.
Eles trazem alegria a ser partilhada, afetos a serem trocados e em muitos momentos nos tiram da alienação... do humano.

Tania Jandira R. Ferreira/outubro 2013

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