Cuidadores existiram desde o início da humanidade.
São os membros dos clãs que de uma forma ou outra
praticam a “arte do cuidado”.
Podem ser membros da família que tomam para si os
cuidados com a prole, com os doentes, com os idosos.
Podem ser aqueles que fazem da arte do cuidado seu ofício. Pajés, Xamãs, Sacerdotes, crecheiras,
professores, educadores sociais, auxiliares de enfermagem, enfermeiros,
médicos, fisioterapeutas, massagistas, psicólogos, psiquiatras, etc.
Espera-se do profissional que atua
neste campo uma capacidade de escuta e sensibilidade para captar o sofrimento
espiritual e humano implicado na doença física e emocional. Mais do que isso,
espera-se que esse profissional seja um ponto de referência e apoio não só para
o doente, mas também para a sua família.
Isso não é diferente dos cuidadores
familiares. Muitas vezes são a eles atribuídos mais responsabilidades e deveres
do que ele se propôs.
A arte do cuidado é
muito exigente. Pode levar o cuidador ao
estresse, se esse cuidado é uma atitude permanente, seja por obrigações
familiares ou profissionais.
Somos limitados,
sujeitos ao cansaço e a confrontos com inúmeras decepções e frustrações na
vida.
Cuidadores familiares
muitas vezes são manipulados por sentimentos de culpa introjetados, em relação
ao doente. Outras vezes são manipulados por outros familiares diante da
situação de cuidar de alguém.
Profissionais do cuidado enfrentam muitas
vezes precárias condições de trabalho,
jornadas fatigante, baixos salários e múltiplos empregos.
Além disso, há questões subjetivas ligadas ao
envolvimento emocional com o sofrimento dos doentes. Espera-se que ele cuide
com amor.
Como todo humano, o cuidador tem seus problemas, dores,
adoecem e sofrem.
É cada vez mais comum o adoecimento e ou morte de
cuidadores profissionais ou familiares por infarto do miocárdio, hipertensão
arterial, AVC, depressão, ansiedade, suicídio, alcoolismo e outras dependências
químicas, além de acidentes automobilísticos, doenças psicossomáticas entre
outras.
Os cuidadores profissionais tem princípios e
práticas produtoras de saúde e bem-estar social e muitas vezes, encontram-se em
conflito, por ter que produzir um discurso puramente teórico visto que, ele
mesmo e sua família representam a própria insalubridade e falta de condições
dignas de vida e cuidado de si.
Negando
a si mesmo o cuidador adoece.
Isso
pode ser observado quando há um endurecimento afetivo, quando há “coisificação”
da relação, quando o vínculo afetivo é substituído por racionalizações,
resultando na perda do sentimento de que estamos lidando com outro ser humano.
Essa
falta de envolvimento afeta sua habilidade para realização de seu ofício; assim
como a dinâmica psíquica do indivíduo
também vai sofrendo alterações.
Questiona-se
o cuidado, a vontade de cuidar se enfraquece. Muitos tornam-se depressivos,
ansiosos, com um imenso sentimento de solidão.
Para os profissionais de
cuidado até já se denominou este estado – síndrome de Burnout.
Cuidadores ás vezes vão
abrindo mão de si mesmos, de descanso, do lazer, do prazer, do auto cuidado.
Em casa de ferreiro, o espeto é de pau!!!???
Cuidadores precisam além de orientações para prestar o
cuidado, de um olhar especial para suas próprias demandas de ordem física e
emocional.
Devem ter a noção de que têm seus deveres e seus direitos; sendo um
dos principais, o direito de ser feliz e
o direito de cuidar de si.
Não
é possível cuidar de si sem se conhecer. O cuidado de si é certamente o
conhecimento de si. Suas forças, fraquezas, necessidades, desejos.
Cuidadores precisam cultivar os seus
sonhos e manter acesas suas utopias.
Em nossa sociedade a partir de um certo momento, o cuidado de si se
tornou alguma coisa estranha. Foi visto como uma forma negativa de amor a si
mesmo, uma forma de egoísmo ou de interesse individual em contradição com o
interesse que é necessário ter em relação aos outros ou com o necessário
sacrifício de si mesmo.
Não
cuidar de si mesmo e se impor sacrifícios, dificulta e empobrece toda a “ arte
do cuidado”.
Cuidar
de si pressupõe em muitos momentos, necessidade de auxílio externo.
Cuidadores
também precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente, como as mães
fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes sentem necessidade do cuidado como
suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e
filhas, como também diz Boff.
E você
cuidador, está se cuidando?
Tania Jandira R. Ferreira/novembro 2013