Vivemos em um
mundo complexo onde os afetos entre os humanos se tornam voláteis, apressados;
onde muitas pessoas não conseguem mais se encontrar e partilhar afetos, dores,
alegrias e esperanças.
Tempo onde o “torpedo” substitui o telefonema e o ouvir a voz do outro, tornando o ser humano cada vez mais isolado apesar de tanta inovação tecnológica.
A companhia de animais, seu carinho e afeto, podem ser um excelente estímulo à vida, nesse mundo complexo.
Tempo onde o “torpedo” substitui o telefonema e o ouvir a voz do outro, tornando o ser humano cada vez mais isolado apesar de tanta inovação tecnológica.
A companhia de animais, seu carinho e afeto, podem ser um excelente estímulo à vida, nesse mundo complexo.
Nise
da Silveira, psiquiatra das mais importantes no cenário brasileiro, começou a
perceber e adotar isso, com pessoas com sofrimento psíquico já na década de 70,
quando percebeu que nos métodos de terapia ocupacional faltava... emoção.
Ela foi pioneira no
Brasil, no uso de animais no
tratamento de doentes mentais. Os utilizava como co-terapeutas. Em entrevista a
revista Época em 1998, ela já dizia:
“Ainda se confia muito no remédio. Remédio não me parece muito
eficiente. Pode ter efeito paliativo, mas não curativo. Confio mais no afeto e na
ação curativa da alegria.”
Em seu livro "Gatos, a emoção de lidar", ela conta como despertou
para isso. Ela dirigia a seção
de terapêutica ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II.
Optou inicialmente por utilizar como método a terapia ocupacional, método considerado de importância menor e até mesmo subalterno, embora sua intenção fosse reformá-lo completamente, pois para ela faltava... emoção.
Optou inicialmente por utilizar como método a terapia ocupacional, método considerado de importância menor e até mesmo subalterno, embora sua intenção fosse reformá-lo completamente, pois para ela faltava... emoção.
“Foi quando certo dia um rapaz freqüentador da
Terapia Ocupacional, em vez de entrar numa das salas de trabalhos masculinos
preferiu entrar na sala de atividades femininas atraído pelas qualidades
latentes que pressentia existirem num pedaço de veludo estendido sobre a mesa
da sala. Dirigiu-se à monitora Maria Abdo e perguntou: 'Posso com este pano
fazer um gato?”
Completado o gato, Luis Carlos tomou um lápis e
escreveu:
“Gato simplesmente angorá do mato
Azul olhos nariz cinza
Gato marrom
Orelha castanho macho
Agora rapidez
Emoção de lidar”
Azul olhos nariz cinza
Gato marrom
Orelha castanho macho
Agora rapidez
Emoção de lidar”
Enquanto manipulava seu gato de veludo, com
surpreendente habilidade, Luis Carlos parecia feliz e disse:
- “Como é macio! Sinto grande emoção de lidar com ele entre minhas mãos”. Essa expressão Emoção de Lidar foi ponto de partida para substituirmos o pesado título Terapêutica Ocupacional."
- “Como é macio! Sinto grande emoção de lidar com ele entre minhas mãos”. Essa expressão Emoção de Lidar foi ponto de partida para substituirmos o pesado título Terapêutica Ocupacional."
Nise teve vários gatos
com quem compartilhava sua vida, com eles aprendeu muita coisa. Na entrevista
citada ela diz o porquê sua admiração pelos gatos.
“Cultivo muito a independência. Por
isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade de que ele precisa
para viver. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo”.
Seu
amor pelos animais e o que eles podem ensinar aos humanos, foi celebrado em
várias de suas frases que circulam:
“Desprezo as pessoas que se julgam
superiores aos animais. Os animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de
ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai.
Não tem papo.”
“Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.”
A falta de contato humano,
não deveria ser substituída pelo contato com animais, mas eles podem nos
ensinar muito... sobre o humano.
Eles trazem alegria a ser
partilhada, afetos a serem trocados e em muitos momentos nos tiram da
alienação... do humano.
Tania Jandira R. Ferreira/outubro 2013
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