Esta é uma das
frases da sabedoria popular, mas também um instrumento terapêutico.
A sociedade prega ideais de felicidade que podem
levar a frustrações. Não podemos nos resignar a uma vida insatisfatória, mesmo
sendo reconhecida socialmente e aceita. Vidas insatisfatórias aumentam os
níveis de frustração, angústia, fobias e depressão.
O bom humor
faz com que não nos deixemos abater perante o infortúnio e não nos levarmos tão
a sério; é acharmos graça das incertezas da vida, é exercitar descrer em todas
as verdades difundidas socialmente, libertando-se dos ideais dominantes.
O humor é uma
forma dos adultos brincarem e não se tornarem amargos perante a vida. Quando a
pessoa consegue se distanciar dos dramas da vida, consegue enxergar as razões
de seu sofrimento por novos pontos de vista, e até mesmo rir deles.
No processo
terapêutico quando isso acontece é uma demonstração que a pessoa está
caminhando para se libertar dos seus condicionamentos e olhar seus sofrimentos
sob um outro ponto de vista. É muito gratificante compartilhar esses momentos e
podermos rir juntos, de piadas que as próprias pessoas fazem de si e de seus
problemas.
O humor é nato, tem sua fonte na atividade lúdica da criança.
As
crianças, pelo riso, manifestam um estado de ânimo que indica que elas estão se
divertindo.
O riso convida para brincar. Para Lacan “antes
mesmo da fala, a primeira comunicação verdadeira, a comunicação para além
daquilo que vocês são diante dela como presença simbolizada, é o riso. Antes de
qualquer palavra, a criança ri.”
No adulto o
humor é fruto de sua imaginação criadora. Para adquirir humor é preciso
desenvolver a ludicidade, uma faculdade necessária para uma vida satisfatória e
expansiva.
O humor e o riso se expressam no corpo. Não apenas
no rosto.
Você já reparou que quando rimos de fato todo nosso
corpo vibra? A barriga também???
Existe um músculo chamado diafragma que quando
endurecido, rígido dificulta não só a respiração, mas a expansão das correntes
vivas de emoção no organismo; não permitindo que a potência da vida que é
genital, flua até o peito e nos torne felizes.
O humor seduz. Ele rompe
barreiras que separam nossos interesses egoístas dos interesses dos outros,
provoca intimidade e comunhão. Rir junto com alguém é um exercício de
intimidade, que favorece amizades e até aproximação sexual. O sorriso auxilia
nas relações sociais, “quebra o gelo“. O humor é um instrumento de grande valia
nas comunicações entre pessoas pois desperta o interesse do ouvinte.
Uma pessoa que
foi privada da capacidade de brincar e sujeita a violências, pode ter seu senso
de humor comprometido. Pode se tornar uma pessoa cronicamente afetada. Isso se
expressa em uma polidez exagerada, uma seriedade formal, uma tristeza
indefinida ou numa revolta verbal.
Hoje se fala muito da “distimia ou mau humor crônico”, que é um transtorno recentemente formulado pela
psiquiatria americana, equivalente a uma forma branda de depressão. O sujeito
cronicamente mal-humorado revela uma enorme insatisfação com seu estilo de
vida, responsabilizando, no entanto, o outro por seu sofrimento.
O humor é uma atividade mental. Toda atividade
mental tem seu correspondente neuroquímico, mas não podemos compreender que a falta
de humor seja apenas uma disfunção neuroquímica. Ela é um sintoma do dinamismo
da psiquê.
William James entendia
que “Nós não sorrimos por eu somos
felizes; nós somos felizes por que sorrimos” . Ainda James no ensina que
uma emoção contagia. Ela pode tanto nos contagiar, quanto contagiar o outro. O riso reforça a
importância da emoção.
Ainda hoje, lembro depois de tantos anos, quando um
cliente cronicamente deprimido, deu boas risadas comigo e disse uma frase um
tanto triste. “Só com você consigo rir”.
O processo
psicoterapêutico é carregado de muitos momentos de tristeza, mas podemos
resgatar o bom humor das pessoas, ajudar a relembrar de momentos de alegria,
aumentar a resiliência e a força para lidar com os sofrimentos. Não se trata de negar
as feridas da vida, mas de sobreviver a elas.
Podemos também
diferenciar o humor da ironia, do deboche e do riso cínico. Com a ironia e o deboche rimos
do outro por acreditar que somos superiores. É um senso de superioridade que o
rege. O cinismo é um riso amargo, melancólico, de quem, decepcionado, perdeu o
gosto pela vida.
Para Freud o
humor é essencial, uma mostra de um psiquismo sadio. Um mecanismo de libertação
ou superação individual a um coletivo repressor. Freud afirmava que também
podemos rir do que é superior a nós ou do que possui poder sobe nós. “O humor não é resignado, mas rebelde”.
Para ele quem consegue fazer piadas sobre a própria sorte estaria acima de seu
destino. Freud quando soube que seus
livros estavam incluídos nas queimas das praças públicas de cidades alemãs,
disse: “Que progressos estamos fazendo! Na Idade
Média teriam queimado a mim. Hoje, se contentam em queimar meus livros”.
O riso é um sinal de
saúde mental, poder rir sozinho, poder rir de si mesmo, poder rir junto com
outros. A alegria é algo que contagia e pode ser compartilhada. Ela se extravasa
no sorriso. O humor tem potência.
Tania
Jandira R. Ferreira
19/03/2014
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