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segunda-feira, março 10, 2014

SEM TESÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO


Tesão é uma palavra portuguesa que não tem significado em outras línguas.
Tesão é palavra que teve seu significado mudado com o tempo.
Tesão não significa mais algo que tenha a ver apenas com excitação sexual ou genital.
Para Roberto Freire, autor do livro “sem tesão não há solução”, tesão tem a ver com interesse, com o que representa e produz em cada um seu desejo e prazer. Algo que é intenso, que é importante para cada um, que dá sensação real de estar vivo. Algo que dá alegria, que é lúdico, a raiz das paixões.
Cada pessoa é única e pode ter inúmeras paixões e tesões, algo que traz movimento, que relaxa, que embriaga, que impulsiona, que traz potência.

A vida é pulsação. O ser vivo expressa sua existência através de contrações e expansões alternadas.
O que traz prazer expande.
O que traz dor ou ausência de prazer contrai.
A contração é um indicativo do que não dá sentido, nem direção, nem significado, nem possibilidade à vida.
É através do prazer e da dor que o ser humano, como qualquer ser vivo, orienta e expande seu potencial energético.

Tanto Reich, como Freire entendem que todo poder autoritário se opõe a vida.
Poderes autoritários se propõem serem absolutos. Não admitem serem contestados. Isso corresponde sempre a uma impossibilidade de se viver os prazeres relativos da existência cotidiana.
Para Freire uma sociedade autoritária, produz um tipo de membro, onde “a forma de prazer que ainda sobraria nessas pessoas seria o de natureza sadomasoquista e paranóica: necessidade da dor alheia ou própria para se alcançar o prazer, necessidade essa comandada pelo fato de se sentirem pessoas superiores, especiais, e que por isso devem estar em constante estado de defesa e ataque contra inimigos, usando para isso o máximo requinte de crueldade e extrema violência.” (*)

Estes poderes autoritários vão se encontrar em toda parte, nas relações familiares, nas relações de gênero, nas relações étnicas, no Estado, na política, nas relações amorosas.

Freire, cita que nas relações de afeto esse comportamento sadomasoquista se expressa quando se usa o amor na forma de poder, quando se usa a sedução, a dominação, a repressão, a castração do outro, com ameaças de retirada da vida do outro, com a própria retirada e com a perversão do nosso amor.
O outro que sofre essa manipulação necessita supor que o parceiro é o melhor, o maior e único amor da vida dele. Para isso a sedução se torna um instrumento de poder.

Se refletirmos sobre as outras relações citadas anteriormente onde o poder autoritário se expressa, não fica difícil se pensar nas armas de sedução que são encontradas através dos tempos e como a sedução que é uma expressão do amor, também vem sendo pervertida.

O remédio, o tratamento preconizado consiste em nos deixarmos de novo contagiar pela alegria, pelo tesão da vida cotidiana, que são energias, sensações, emoções que nos tornam mais potentes, que compartilhamos com outros, que repartimos; o oposto a poderes absolutos.

Mesmo em uma sociedade doente e autoritária, a essência do humano é querer viver, se desenvolver, desenvolver o seu potencial de vida. Não apenas estar vivo, mas querer a vida, criar, sentir algo que o torna humano – o amor, que é algo que faz e justifica a vida.

A alegria, o tesão e o amor são sensações e emoções de natureza individual, que outros podem despertar e potencializar em nós.

A função da psicoterapia é despertar, libertar e desenvolver esses potenciais a partir do encontro psicoterapêutico. Possibilitar descobrir nossos inúmeros tesões e de que “sem tesão não há solução”.

Pessoas potentes amam toda expressão de vida e não se deixam seduzir por qualquer proposta de poder autoritário onde quer que se apresentem, pois estes são a antítese da vida.

Transformando-nos, vamos contagiando outros e assim podemos transformar a sociedade em que estamos imersos.
A vida pulsa em nós.

Tania Jandira R. Ferreira
17/02/2014

(*) Roberto Freire foi psiquiatra,psicoterapeuta, diretor de cinema e teatro. Criador da “somaterapia”, terapia corporal baseada nas teorias de Wilhelm Reich. O título desse artigo leva o nome de um de seus livros mais famosos. É também desse livro o trecho no artigo.

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