Tesão é uma palavra
portuguesa que não tem significado em outras línguas.
Tesão é palavra que teve
seu significado mudado com o tempo.
Tesão não
significa mais algo que tenha a ver apenas com excitação sexual ou genital.
Para Roberto
Freire, autor do livro “sem tesão não há solução”, tesão tem a ver com
interesse, com o que representa e produz em cada um seu desejo e prazer. Algo
que é intenso, que é importante para cada um, que dá sensação real de estar
vivo. Algo que dá alegria, que é lúdico, a raiz das paixões.
Cada pessoa é
única e pode ter inúmeras paixões e tesões, algo que traz movimento, que
relaxa, que embriaga, que impulsiona, que traz potência.
A vida é pulsação. O ser vivo expressa sua existência através
de contrações e expansões alternadas.
O que traz prazer expande.
O que traz dor ou ausência de prazer contrai.
A contração é um indicativo do que não dá sentido, nem
direção, nem significado, nem possibilidade à vida.
É através do prazer e da dor que o ser humano, como qualquer
ser vivo, orienta e expande seu potencial energético.
Tanto Reich, como Freire entendem que todo poder autoritário
se opõe a vida.
Poderes autoritários se propõem serem absolutos. Não admitem
serem contestados. Isso corresponde sempre a uma impossibilidade de se viver os
prazeres relativos da existência cotidiana.
Para Freire uma sociedade autoritária, produz um tipo de
membro, onde “a forma de prazer que ainda
sobraria nessas pessoas seria o de natureza sadomasoquista e paranóica: necessidade
da dor alheia ou própria para se alcançar o prazer, necessidade essa comandada
pelo fato de se sentirem pessoas superiores, especiais, e que por isso devem
estar em constante estado de defesa e ataque contra inimigos, usando para isso
o máximo requinte de crueldade e extrema violência.” (*)
Estes poderes
autoritários vão se encontrar em toda parte, nas relações familiares, nas
relações de gênero, nas relações étnicas, no Estado, na política, nas relações amorosas.
Freire, cita que nas relações de afeto esse comportamento
sadomasoquista se expressa quando se usa o amor na forma de poder, quando se
usa a sedução, a dominação, a repressão, a castração do outro, com ameaças de
retirada da vida do outro, com a própria retirada e com a perversão do nosso
amor.
O outro que sofre essa manipulação necessita supor que o
parceiro é o melhor, o maior e único amor da vida dele. Para isso a sedução se
torna um instrumento de poder.
Se refletirmos sobre as outras relações citadas anteriormente
onde o poder autoritário se expressa, não fica difícil se pensar nas armas de
sedução que são encontradas através dos tempos e como a sedução que é uma
expressão do amor, também vem sendo pervertida.
O remédio, o tratamento preconizado consiste em nos deixarmos
de novo contagiar pela alegria, pelo tesão da vida cotidiana, que são energias,
sensações, emoções que nos tornam mais potentes, que compartilhamos com outros,
que repartimos; o oposto a poderes absolutos.
Mesmo em uma
sociedade doente e autoritária, a essência do humano é querer viver, se
desenvolver, desenvolver o seu potencial de vida. Não apenas estar vivo, mas
querer a vida, criar, sentir algo que o torna humano – o amor, que é algo que
faz e justifica a vida.
A alegria, o tesão e o amor são sensações e emoções de
natureza individual, que outros podem despertar e potencializar em nós.
A função da
psicoterapia é despertar, libertar e desenvolver esses potenciais a partir do
encontro psicoterapêutico. Possibilitar descobrir nossos inúmeros tesões e de
que “sem tesão não há solução”.
Pessoas potentes amam toda expressão de vida e não se deixam
seduzir por qualquer proposta de poder autoritário onde quer que se apresentem,
pois estes são a antítese da vida.
Transformando-nos,
vamos contagiando outros e assim podemos transformar a sociedade em que estamos
imersos.
A vida pulsa
em nós.
Tania Jandira R. Ferreira
17/02/2014
(*) Roberto Freire foi psiquiatra,psicoterapeuta, diretor
de cinema e teatro. Criador da “somaterapia”, terapia corporal baseada nas
teorias de Wilhelm Reich. O título desse artigo leva o nome de um de seus
livros mais famosos. É também desse livro o trecho no artigo.
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