“A vida é uma tapeçaria que elaboramos, enquanto somos urdidos dentro
dela.
Aqui e ali podemos escolher alguns fios, um tom, a
espessura certa, ou até colaborar no desenho.
Linhas de bordado podem ser cordas que amarram ou
rédeas que se deixam manejar: nem sempre compreendemos a hora certa ou o jeito
de as segurarmos.
Nem todos somos bons condutores; ou não nos
explicaram direito qual o desenho a seguir, nem qual a dose de liberdade que
podíamos – com todos os riscos – assumir.
Em quartos, corredores e salas, secreto e trivial
escorrem misturados entre pais e filhos, morte e nascimento, rancores e amor.
Casas são muito importantes para mim. É nelas que o
fio passa de mão em mão, brotando das mulheres que mal se dão conta do
indizível em seus ventres.
Nas casas lançam raiz futuras lembranças que,
somando-se ao que já trazemos ao nascer, vão nos deixar mais fortes ou mais
vulneráveis.
A vida tem muitos aposentos, e “no quarto dos
fundos senta-se a alma solitária á espera de passos que não chegam nunca” (E.
Wharton)” Lya
Luft
A Tecelã é uma imagem arquetípica.
Tecer é o processo pelo qual o fio é
criado pelo giro do fuso e da roda, seguido do ato de tecer vários padrões em
diversas cores.
Como símbolo mítico fala-se
na criação da ordem cósmica e na
determinação dos destinos humanos. Imagem da Grande Mãe, Senhora do Tempo e do
Destino.
Segundo Mircea Eliade o próprio
Cosmos é concebido como um tecido, como uma enorme rede, onde como na vida
humana tudo está ligado através de uma textura invisível.
Ainda nos terreno dos
símbolos, falando do tecer lembramos da aranha, que é vista como uma intermediária entre o céu e a
terra, no seu trabalho infinito de fiar, capturar, desfazer e renovar a sua
teia, por isso ela simboliza a alternância das forças que sustentam a
estabilidade cósmica. Jung considerou-a um símbolo do Self, a parte da
personalidade que inclui e integra o subconsciente e o consciente, o claro e o
escuro, a luz e a sombra.
Se entendemos que somos sujeitos históricos, podemos
compreender que podemos criar nossa vida, fazer dela o melhor que pudermos.
Alguns traçam as teias de
sua vida de forma fatalista, trágicas, fadadas ao fracasso e a infelicidade;
outros com esperança, vendo obstáculos e dores como aprendizados, para seguir
em frente e poder se tornar mais feliz.
A vida é uma tapeçaria. Cada
um pode fiar, tecer e criar sua própria história.
Tania Jandira R. Ferreira
24/02/2104
Nenhum comentário:
Postar um comentário